quinta-feira, 17 de maio de 2012

BALUARTE DA UMBANDA POR RUBENS SARACENI

BALUARTE DA UMBANDA - MÃE OTACILIA

Rubens Saraceni: Hoje trazemos para vocês uma pessoa excepcional, um exemplo para todos os Umban­distas. Trazemos para entrevistar nessa semana Mãe Otacília de Iemanjá. Senhora Otacília Firmino dos Santos. Sinta-se à vontade para nos falar um pouquinho sobre quem é Mãe Otacília de Iemanjá.

Mãe Otacília: Mãe Otacília de Iemanjá é uma pessoa que trabalha pela Umbanda desde 1954. O meu começo na Umbanda foi um sofrimento muito grande. Quando a luta co­meçou, aconteceu a perda do meu es­poso e outros problemas em família. Mas graças a Deus eu consegui superar tudo, exercendo a função que eu tenho junto a Umbanda, que é a enfermagem. Eu faço partos, visito crianças que estão em más condições, ajudo muito aquelas pessoas menos favorecidas que precisam de um médico ou chegar ao hospital para ser atendidos, consigo leitos para crianças desfavo­recidas, e o que eu mais faço dentro da Umbanda é ajudar pessoas idosas, que para mim é um prazer muito grande. Alguns familiares não aceitam muito bem esse meu trabalho de ajudar o próximo. Mas eu, como mãe que criei meus filhos quase sozinha, ajudo os velhinhos com agasalho, com palavras, com orientação em família, porque a Umbanda não é só religião, a Umbanda tam­bém é amor, é carinho, é dedi­cação, é passar a mão na cabecinha daqueles que estão mais despre­zados, que às vezes não encontram uma família para dar apoio. Então, nós verdadeiros Um­bandistas devemos ajudar com muito carinho essas pessoas que tanto pre­cisam. Esse é o meu papel de mãe.


Rubens Saraceni: Embora não apa­rente, a senhora tem 77 anos de vida com muito trabalho e dedicação. Do alto dos seus 53 anos na Umbanda, co­mo era nossa religião quando a senhora começou em 1954?

Mãe Otacília: A Umbanda era linda e maravilhosa, não tinha preconceito, não tinha vaidade, não tinha folclore. A era muito bem vista, mas era uma Umbanda pobre, simples, cheia de amor, carinho e dedicação. Só faltava, como hoje ainda falta, um maior pres­tígio, que mostre realmente o que é Um­banda. Agora Deus iluminou e apa­receu alguém que está começando a mostrar a Umbanda como ela merece.


Rubens Saraceni: A senhora falou uma coisa que eu via nos umbandistas do passado, que era um grande amor pela Umbanda, era um amor que vestia uma camisa não era?

Mãe Otacília: Uma camisa bem vestida e bem respeitada.


Rubens Saraceni: A Umbanda re­cebeu muitas críticas por parte de outras correntes religiosas contrárias. A senhora chegou a passar por cons­trangimentos, ou se sentiu magoada ao ver pessoas falando mal dos Orixás, dos Guias que nós tanto respeitamos?

Mãe Otacília: Sim, muito. Mas su­perei a tudo porque quando a gente tem fé e respeita os Orixás a gente passa por tudo e segue em frente.


Rubens Saraceni: Sim... Cada um vai colher o seu retorno no tempo certo não é? Foi por volta dos 22 anos que a senhora desenvolveu sua me­diu­nidade?

Mãe Otacília: Eu comecei junto com o meu marido na casa do senhor Juca, um pai de santo muito humilde. Nós começamos construindo o terreiro, levantando a casa no bairro do Rio Pequeno e foi de lá, que 8 anos depois eu saí para abrir minha própria casa, quando conheci Jamil Rachid.


Rubens Saraceni: Há quanto tempo a senhora está filiada à União de Tendas?

Mãe Otacília: Cerca de 45 anos. 

Rubens Saraceni: Por volta de 1970 hou­ve uma explosão de centros de Um­banda na cidade de São Paulo. A senhora acredita que foi nessa época que se perdeu a pureza inicial?

Mãe Otacília: Realmente acho que foi sim. Faltou orientação e por causa de certas atitudes sem um propósito espiritualista, a Umbanda ficou com seu nome tão desfalcado. Mas tenho certeza que com essa orientação, com essa sua vontade, o senhor vai conse­guir pôr ordem na nossa religião, em nome de Iemanjá.


Rubens Saraceni: Algumas pessoas que me procuram, abriram seus cen­tros porque seus guias pediram para que começassem, mas eles estavam despreparados. Atenderam o pedido de começar o trabalho, mas com muita insegurança de não saber como pro­ceder e conduzir uma casa. A senhora também tem se deparado com essas pessoas?

Mãe Otacília: Muito. E tenho procu­rado ajudá-las quando possível.

Rubens Saraceni: Não é um apren­di­zado que se adquire num livro não é?

Mãe Otacília: É verdade. Como meu tempo e meu espaço são poucos, ge­ral­mente eu encaminho essas pessoas para quem eu conheço, que tenha mais capacidade, mais tempo e que esteja preparado para poder dar uma palavra. 

Rubens Saraceni: A senhora sentiu essa insegurança também?

Mãe Otacília: Sem dúvida. Comecei numa gira de Cosme Damião e na pró­xima foi Preto Velho, onde eu vi que me perdia, não sabia onde estava e vi que realmente existia espiritualidade porque até aí eu era muito confusa, indecisa, mas depois do Preto Velho veio o Caboclo e eu comecei a pergun­tar e a ter muita intuição. Levei muitas perguntas ao Pai Jamil, e ele falava: “Filha você tem que seguir, tem que abrir sua casa, você não pode ficar na casa dos outros porque você tem a sua própria cabecinha, sua intuição, seus Caboclinhos, e você tem que ter uma espirituali­dade diferente na sua casa”. 

Rubens Saraceni: A se­nho­ra faz idéia de quantos médiuns já passaram na sua vida nesses cinqüenta anos?

Mãe Otacília: Nossa é muita gente! Fora os partos que eu tenho feito, não existe quan­tidade porque foram vários.


Rubens Saraceni: Como jun­tar a espiritualidade que é um dom, com essa mão para o parto que é outro dom. Como começou essa coisa de fazer partos?

Mãe Otacília: Eu sou au­xiliar de enfermagem, traba­lhei a vida inteira e sempre ti­ve esse dom de ajudar o pró­ximo. Desde que eu deixei a enfer­magem nunca parei,  sempre fazendo curativos, aju­dando um e outro. Como o senhor sabe, a Umbanda é 24 horas, como um pronto socorro, aí aparecem aquelas que estão esperando neném, vão ao médico, e ele manda voltar pa­­ra casa. Quando eu vou olhar, a crian­ça está nascendo e eu ajudo. 

Rubens Saraceni: O Ogã Juvenal, filho da Mãe Otacília me disse que ela fez cerca de 600 partos, inclusive na praia. Mãe Iemanjá que é a mãe da maternidade sempre se manifestou muito forte na sua vida não é?

Mãe Otacília: Sempre. E tanto os que nasceram na minha casa como esses que nasceram na praia são cri­anças saudáveis, benéficas, todas se formaram, todas são gente boa. Sinto um orgulho muito grande de ser res­peitada por eles.

Rubens Saraceni: Sua disposição aos 77 anos de idade nos estimula a acreditar que a espiritualidade nos fortalece. Nós sabemos que o espírito quando incorpora, ao contrário do que algumas pessoas andam espalhando por aí que ceder seu corpo ao espírito, incorporar faz mal; nós que somos médiuns e temos consciência disso que quando o espírito incorpora em nós ele faz a caridade dele e quando ele vai embora ele nos deixa melhor do que quando nos encontrou não é verdade?

Mãe Otacília: Sim é verdade. Às vezes, quando um filho com uma dorzinha de cabeça diz que não po­derá vir, eu respondo: Ve­nha, você vai voltar cura­do. Às vezes eu desço in­dis­posta, e quando eu su­bo, volto nas nuvens. Pe­guei um monte de energia que eu nem sei como re­tribuir.

Rubens Saraceni: Teve um tempo que tinham muitos jovens no centro se desenvolvendo mas precisavam se afastar por precisar de um emprego, retomar os estudos. A senhora já passou por isso também? De fazer o bem e ver os médiuns se afastando não porque eles quisessem, mas por­que a vida material obrigava?

Mãe Otacília: Várias vezes. Princi­palmente com aqueles que estudam e trabalham e entram em dificuldades por perder provas por causa do horário do trabalho espiritual. No começo, a gente acha que a atitude deles é sus­peita, mas acaba entendendo as suas necessidades.

 Rubens Saraceni: A senhora poderia falar um pouco do Pai Ventania e Pai Caxambu para as pessoas que não conhecem esses Caboclos?

Mãe Otacília: O Caboclo Ventania e o Caboclo Caxambu são caboclos que fizeram tantas coisas boas, tem tantas recordações bonitas levadas por pessoas que já se foram...  Acho que quem realmente pode falar são as pessoas que freqüentam a casa e sa­bem que o Caboclo Ventania e o Ca­boclo Caxambu que incorpora em minha irmã, bem como o Preto Velho Bate Cambinda são Guias aos quais eu tenho muito desejar em agrade­cimento, porque só dizer obrigado é muito pouco.

Rubens Saraceni: Alguns médiuns se espelham em determinado Guia, esperando que o deles faça a mesma coisa, esperando que sejam iguais.

Mãe Otacília: É verdade, a gente tem que frisar muito isso. Dentro da Um­banda não deve haver imitação. Cada Guia ou Mentor tem a sua pró­pria consciência porque o médium não está morto, ele está vendo tudo o que está acontecendo e não deve copiar nada. Colares, guias, é legal que vo­cês gostem, achem bonito, mas isso não é espiritualidade é vaidade; espiri­tualidade está dentro da cabe­cinha de cada um, do coração de cada um. Tenho certeza de que se houver um Orixá, um Caboclo ou Preto Velho ele usará sua intuição para passar o que for necessário. Não vale a pena ficar copiando nada dos outros.

Rubens Saraceni: Outra questão é enfrentar os problemas decorrentes de se manter um templo aberto.  A senhora tem visto pessoas fechando suas casas?

Mãe Otacília: Muitas pessoas, não tem mais condições de manter uma casa aberta porque pagam aluguel, não tem emprego ou dinheiro sufi­ciente. Uns a gente tenta ajudar a retornar, a fazer seu barraquinho, mas nem todos a gente pode socorrer na hora certa.

Rubens Saraceni: A Umbanda é caridade, é doação, o médium doa sua matéria e a espiritualidade trabalha o tempo todo beneficiando as pessoas sem exigir nada em troca. Então chega um momento que há um estrangu­la­mento na vida daquele médium, por­que ele deixa até o emprego dele para se dedicar a espiritualidade sem ter um retorno financeiro não é?

Mãe Otacília: Sim, é verdade. Por não ter um emprego, não poder pagar o aluguel, as coisas se complicam... Aí deixam de ter tempo de cuidar da religião porque eles precisam ter dois dois empregos para sustentar as necessidades da casa... Geralmente eu digo: “Meu filho não é por aí, eu tenho certeza que você vai se en­contrar porque quando a gente quer e persiste consegue aquele sonho que é a Umbanda não é? E quando sim, aparece uma casinha, aparece um emprego...

Rubens Saraceni: A senhora resu­miu tudo: A perseverança tem que estar presente na vida daquele que recebeu uma missão, porque não é fácil. Antes, é trabalhoso, tem que se dedicar mesmo, e a recompensa é o enriquecimento do ser. Nós espera­mos que os jovens umbandistas come­cem a olhar para os mais velhos, que estão há mais tempo na estrada e já cumpriram uma grande missão, e que continuam a cumprí-la com o mesmo ânimo, o mesmo prazer com que co­meçaram lá atrás. A senhora se sente menos animada hoje?

Mãe Otacília: Não! Me sinto vitoriosa por ter conseguido e estar conse­guin­do muita coisa que eu não esperava. E digo a vocês crianças: “Vão em frente!” A Umbanda é uma religião  linda e maravilhosa, mas sem vaida­des, sem orgulho, sem hipocrisia e muita simplicidade.

  

Pai Rubens Saraceni.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

SARAVÁ A UMBANDA

UMBANDINHA
Gente vocês não tem idéia do quanto eu detesto ouvir esta palavra, hoje eu estava revendo meus arquivos de fotos, e vi quantas personalidades da Umbanda e do Candomblé participaram dos festejos de São Jorge no Ginásio do Ibirapuera, e muitas dessas pessoas do candomblé, uma delas posso citar com exemplo, pois conheço toda a sua história, é o do nosso saudoso Tatá Pérsio, que gravou um depoimento muito lindo, nas dependências do Ginásio falando de nossa querida Umbanda, Tatá Pérsio começou a se desenvolver na Umbanda e só depois de alguns anos de Umbanda é que se ingressou no Candomblé, pois como ele mesmo falava “Comecei na Umbanda ainda de calças curtas” lembrei dele agora porque revi o depoimento e também me lembrei na 1ª Festa de São Jorge, na cidade de São Bernardo do Campo onde estávamos presentes, inclusive o Prefeito da cidade e Pai Pérsio me falou, “Ogan Juvenal me de licença, que eu quero cantar um ponto para São Jorge, pois eu vim da Umbanda a Umbanda é a minha raiz”, ai ele ainda sentado, pois já se encontrava bastante debilitado, cantou um lindo ponto de São Jorge, que emocionou a todos os presentes, Pai Jamil Rachid assim como Tatá Pérsio também começou na Umbanda como filho de Santo do saudoso Pai Jau o Sr. Euclides Barbosa, uma pessoa muito meiga e humilde dentro de nossa religião, que trouxe a Umbanda do Rio de Janeiro para São Paulo, Pai Ronaldo Linhares e Pai Fernando Cassitas também iniciaram na Umbanda e tem suas raízes dentro do Candomblé como filhos de Pai Joãozinho da Goméia, e tem muita gente que eu poderia citar, pois, estes que estou falando eu os conheço ou os conheci pessoalmente e não de ouvir falar. Pois é meus irmãos, ainda assim, tem algumas pessoas que chamam nossa religião de “umbandinha”, e que detestam os umbandistas, se dizem feitos no Santo, mais estas mesmas pessoas que criticam a Umbanda criticam os Umbandistas, fazem festas para Caboclos, se vestem de Exus e Pomba Gira, trabalham com Cosme e Damião, Pretos Velhos e não são Umbandistas, e ai eu pergunto, de onde vem estas entidades? De nossa Umbanda não é verdade?, Então meus amigos respeitem as religiões, respeitem as Nações, respeitem os fundamentos de cada um, pois cada um pratica aquilo que aprendeu, UMBANDA É UMA RELIGIÃO BRASILEIRA – UMBANDA É UMA RELIGIÃO UNIVERSAL, E SALVE A UMBANDA, SARAVÁ !!!! Ogan Juvenal
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...