segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

JAMIL RACHID OLUWÔ DE AZAWANI FALA DE TATA FOMOTINHO

Em pé, Tio Edécio (Dofono), da esq. p/ dir. Tio Otávio (Fomo),"Babá" Ogan Damaceno, Pai Jamil


Eu comecei em 1948; muito novo ainda, me iniciei com Pai Jaú, o Sr. Euclides Barbosa muito conhecido que tinha o terreiro de Umbanda em Bonsucesso, Guarulhos.
O Terreiro era muito grande, tinha cerca de 300 médiuns, foi uma fase difícil, muita perseguição da policia. Por volta de 1950, eu e o Edécio, um dos companheiros no barco de Tatá Fomotinho, que na época já era mais desenvolvido, fomos fazer um trabalho para uma menina de três anos que estava passando por um problema muito sério. A partir daí nós decidimos alugar um cômodo e iniciar nosso próprio terreiro. Assim começou minha vida na Umbanda.

Em 1958, o Dr. Luiz de Moura Acioli, Presidente da União de Tendas de Umbanda do Estado de São Paulo (que foi quem abriu aqui na cidade de São Paulo a Tenda São Jorge, na Rua Santa Ifigênia, trazendo do Rio de janeiro o ritual de Umbanda), me pediu que fosse ao Rio de Janeiro levar um oficio para o Joãozinho da Goméia. Aproveitando que eu estava no Rio, Joãozinho também me pediu que fizesse a ele um favor que fosse até Vilar dos Telles levar uma carta dele para Tatá Fomotinho o Senhor Antonio Pinto. Chegando La, eu disse “Sr. Antonio, o Sr. João da Goméia pediu que eu lhe entregasse esta carta em mãos”. Ele pegou a carta e me convidou para  entrar e sentar um pouco; fazia muito calor e eu estava realmente cansado. Depois, ele me olhou e perguntou meu nome. Eu lhe respondi e ele começou a balançar a cabeça, mas não falou nada. Ele me perguntou “Você já entrou em algum terreiro antigo?” eu respondi que não, e disse que o primeiro Candomblé que conheci foi o de Joãozinho da Goméia. Ele então me convidou para conhecer o terreiro, a Casa de Exu, Casa de Obaluaies, e na tradição Jeje é tudo diferente do que eu já conhecia. Nesse mesmo dia ele me disse que faria uma festa para Oxum e me convidou para assistir, e eu fui. Chamei o Edécio e o Otávio para irem comigo, e fomos para o Rio de Janeiro.

Chegando lá na hora do toque, os três Obaluaies bolaram! E nós não estávamos preparados para aquilo, tínhamos ido para assistir a um ritual de Nação Jeje. Depois disso, Tatá nos recolheu e disse, “Olha vocês é quem sabem, querem voltar para São Paulo, voltem, mas eu não garanto”. Bom, nós já estávamos La mesmo... Naquele tempo eu tinha um comércio, uma Casa de Ferragens na Rua Teodoro Sampaio, liguei e pedi que alguém fosse até em casa, avisar que eu ficaria fora, e que levassem algum dinheiro enquanto eu estivesse ausente. “Se o Tatá acha que devemos ficar, que o Orixá esta pedindo, então nós ficamos”. De recolhimento, dentro do terreiro ficamos 21 dias, mais um mês, naquele tempo não tinha esse negócio de ficarem só os 21 dias e já sair. Ficamos mais um mês, cumprindo os preceitos e rituais. Depois do recolhimento, Tatá Fomotinho nos trouxe de volta para São Paulo. Nessa época eu já tinha um terreiro grande em Pinheiros e o Edécio em São Miguel Paulista, o Otávio também já tinha o seu terreiro aberto. Tatá Fomotinho fez questão de nos trazer, porque ele era responsável por nós. Inclusive, nos dias dos Axés e das obrigações lá no Rio de Janeiro, o Pai Pequeno do Edécio, do Otávio e o meu, também participaram das cerimônias, porque depois seria preciso dar continuidade a isso por aqui. Então, chegamos a São Paulo em uma verdadeira comitiva, nós três, mais os três Pais pequenos, e Tatá Fomotinho.

A chegada dos três Vodunsis a São Paulo foi uma verdadeira festa, após esse tempo todo fora das nossas atividades aqui em São Paulo.

Tatá Fomotinho
Depois da nossa iniciação, Tatá Fomotinho costumava vir a São Paulo todo ano para fazer os Axés, já que nós tínhamos casa aberta, era feito o assentamento o que fosse necessário, juntamente com o Ogan José, que era o braço direito da Casa de Tatá.

Em 1966, Tatá estava em um ponto de ônibus e um veiculo desgovernado subiu à calçada e acabou atropelando as pessoas que ali estavam inclusive Tatá Fomotinho. Desse acidente foi possível salvar a vida dele, mas ele acabou ficando com seqüelas, porque bateu justamente a cabeça. Ficou um tempo internado em um hospital lá no Rio, e, depois de recuperado, de vez em quando ainda vinha a São Paulo.

Na ultima vez em que aqui esteve já não estava muito bem, e a minha esposa, na época a Laura, lhe deu toda a assistência necessária. Depois disso eu, Edécio e Otávio, os três Vodunsis, o levamos de volta ao Rio de janeiro. La ele ficou na casa do Djalma de Lalu
para não deixar Tatá sozinho na Roça.

Foi uma época em que ele começou a não passar bem, teve diversos problemas de saúde e acabou falecendo. Então nós voltamos novamente ao Rio para acompanhar toda a cerimônia fúnebre.

Tatá Fomotinho, foi um grande sacerdote da Nação Jeje Mahi, que levou ao Rio em meados da década de 1930, a tradição de Jeje, sempre muito humilde, foi uma pessoa exemplar para todos os filhos de Santo “

Pai Jamil, narrou um pouco de sua trajetória da sua feitura de Santo com Tatá Fomotinho, O Pai Pequeno que ele citou foi o Ogan Ernesto o Ogan Mais velho da casa que já nos deixou hoje a nossa casa possui um grande grupo de Ogans e Ekedes, alguns deles com mais de trinta anos de confirmação, o Pai Pequeno é o Pai Edmundo de Jagun, Ogan Felício Bajigan, Ogan Juvenal Ogan Kolofé, Ogan Walter meu irmão de Santo Pejigan da Casa, e os Ogans, Robson, Gilberto, Alecler, Josué, Basílio, Rodolfo, Luiz, João, Ari os Alabês, Roberto, Marcelo e Carlinhos, e, as Ekedes, Marina, Yara, Marlene e Janine a nossa Nininha.  

A palavra Vodunsi, significa esposa de Vodun, ou aquela que Vodun possui. Vodun=Divindade, Si=Esposa, mulher fêmea, e é usada para designar as pessoas iniciadas no culto Jeje, após um ano de iniciação.

Culto aos Voduns no Brasil, Nação Jeje Mahi, dentre os habitantes da região de Dahomé escravizados no Brasil, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade de Mahi foi escolhida pelos Voduns para fundar três Templos na Bahia;

- Kwe Ceja Hounde, mais conhecido como Roça de Ventura, em cachoeira de São Felix
- Terreiro do Bogun em Salvador
- Um Templo para Ajunsun, fundado mais tarde pela africana Gaiaku Satu, em Cachoeira de São Felix, que recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido como Cacunda de Ayá.
 
No Maranhão temos a Casa das Minas, fundada por Maria Jesuína, com certeza a mais conhecida casa de Jeje do Brasil. Ainda no Maranhão encontramos a Casa Fanti-Ashante, fundada por Euclides Ferreira (Talabian).
No Rio de Janeiro foi fundada pela Africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o Terreiro do Pó Dabá, no bairro da Saúde. Depois Antonio Pinto de Oliveira, Tatá Fomotinho, meu avô de Santo fundou o Kwe Cejá Nassó, minha raiz, no bairro de Santo Cristo, mudou-se para Madureira na Estrada do Portela e depois para São João de Meriti, onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.

Tatá Fomotinho deixou uma Legião de filhos, netos e bisnetos, dentre esses, Jorge de Yemanjá, que fundou o Kewe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viajem, que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxossi, meu Pai de Santo Jamil Rachid que fundou o Ilê de Obaluaie e o Templo de São Benedito, e Tio Amaro de Xangô.

Voduns não usam roupas luxuosas, geralmente preferem à boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas, em um ritmo mais denso e pesadas. Os Voduns estão sempre de olhos abertos, e, salvo algumas exceções, conversam usando preferencialmente um dialeto próprio, dando conselhos a quem os procura. A iniciação ao Voduns é complexa e longa, e pode envolver longas caminhadas a santuários e períodos de reclusão dentro do terreiro, que podem chegar a durar um ano. Os Vodunsis são submetidos a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência. Isto é Jeje Mahi.

                      Modupé Tatá Fomotinho

                                  Modupé Oxum Dei, Orixá de Tatá

                                             Modupé a Vodun Bessén o Rei de Jeje Mahi  


9 comentários:

  1. Kolofé Ogan.
    Amei saber mais da história da minha familia.
    Sou Da casa de Edécio aqui em São Miguel, sou Neta dele e filha de santo de Miraldo do Ogum.
    Obrigada por compartilhar conosco.
    Ekedji Cintia.

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  2. kolofé ao responsavel por está pagina! Eu me chamo monica sou ekedji de oyá e gostaria . sou neta de jussan de azansú q e filho da finada derenice de agué.Bom gostaria se fosse possivel q me manda-se o endereço da tia belinha na colina do oxosse.deus de ja agradeço a qm poder me ajudar......eu email monicacristina.rj@oi.com.br.....

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  3. Kolofe Ogã Juvenal, sou Marcelo de Jagun, filho de Belinha do Oxossi e neto de Tata Fomotinho. Essa primeira foto com os 3 vodunsis de Omolu filhos de seu Tata está rolando na internet, o povo esta dizendo que quem está sentado no meio é seu Tata, pela qualidade da foto, percebe-se que é uma foto antiga, mas não tanto para seu Tata, me parece que essa foto foi feita na decada de 70 ou 80 e, que seu Tata já havia falecido. Vi tb que o sr deixa claro quem estão na foto e em momento algum cita o nome de Tata. O senhor poderia me dizer a origem dessa foto? Se não me engano, essa foto foi tirada em uma homenagem dos 3 tios aos seus voduns e a Tata, mas meu avo ja havia falecido. O senhor poderia me confirmar? Um forte abraço, respeitosamente, Dote Marcelo de Jagun

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  4. Kolofe Oga, meus respeitos. Sou o Doté Marcelo de Jagun, filho de Belinha do Oxossi, neto de Tata Fomotinho. Está rolando na internet essa primeira foto dos tios e dizendo que quem está no meio da foto é meu avo Tata, ja li e vi que não é seu Tata, ate mesmo que esta foto parece ser da década de 70 ou 80, sendo assim, Tata ja havia falecido. Se não me engano essa foto foi de uma homenagem feita pelos tios aos seus voduns e a Tata Fomotinho. Essa informação procede? Sua bênção, Marcelo de Jagun

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Olá meu irmão Marcelo, Kolofé Olorum este senhor que esta ao centro com o Adjá na mão, é o Ogan mais antigo da casa de Tata, ele é o Ogan Damaceno, que era carinhosamente chamado de Babá. Abraços e obrigado, Ogan Juvenal

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  7. Kolofé ao Ogan,sou Luciana,bisnesta de Jorge de Yemanjá.Abraços e muito grata pela lembrança,Ogan Juvenal.

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  8. Kolofé ao Ogan Juvenal,sou Luciana de Yemanjá,filha da Yalorixar Margarida,neta de Aurea Facchinetti,Bisneta de Jorge de Iemanjá.Muito feliz em relembrar as benesses do Axê plantado por tatafomotinho,ele deixou muita luz em nossa vidas.Abços

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Axé a todos, Ogan juvenal



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